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Os desafios dos próximos governantes para minimizar o desemprego

Fotos: Renan Mattos (Diário)

Aos futuros governantes, bastaria visitar alguns municípios da Região Central para deparar com inúmeras famílias que sofrem com a falta de trabalho, que sobrevivem no subemprego ou na informalidade. A exceção fica com as cidades que possuem estruturas mínimas de geração de renda e que contam com instituições como Senac, Sebrae, Sindicato Rural e de Trabalhadores, entre outros. Essas acabam proporcionando ofertas de emprego, estágios, qualificação profissional, além de estreitar o relacionamento entre profissionais e empresas.

Com gente mais bem preparada, fica mais viável atrair empresas e permitir que os moradores montem seus próprios negócios e fiquem nas cidades.

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Santiago, por exemplo, conta com essa rede, o que contribui para o desenvolvimento local. Por lá, o comércio, a construção civil e os serviços representam 79% da economia. A agricultura, mais 14% e a indústria 7%, o que tem melhorado a empregabilidade, que aumentou em 4% na última década.

Por outro lado, há muitos municípios onde quase não existem desempregados, pois boa parte das pessoas busca oportunidade longe de casa, fenômeno social conhecido como êxodo.

- Cerca de 150 itacurubienses trabalham fora, por não conseguir emprego dentro do município. Os principais setores que empregam por aqui são a agropecuária e a prefeitura. Falta atrair uma fábrica, mas é difícil por se tratar de uma cidade de interior e por falta de logística. O maior sonho da nossa comunidade é trazer uma indústria que possa gerar trabalho - relata o prefeito de Itacurubi, José Rubem Loureiro.

Conforme dados da Associação dos Municípios da Região Centro (AM Centro), que inclui 33 cidades, neste ano, o cenário melhorou: há um total de 105.401 empregos formais, com 23.851 empregos formais contra 23.688 demissões, resultando em um saldo de 163 novas vagas em 2018. Mesmo assim, é difícil "segurar" profissionais nas pequenas cidades:

- Ainda temos a dificuldade regional de encaixar os jovens formados na região. Também há um grande volume de profissionais que se formam e entram no mercado, causando uma migração para outras cidades - avalia o presidente da AM Centro e prefeito de Santiago, Tiago Gorski Lacerda.

ENFRENTAMENTO

O economista José Maria Pereira defende que, somente uma recuperação da economia em grandes proporções fará o cenário melhorar e minimizará, inclusive, o êxodo. O primeiro passo, segundo ele, seria o Estado conseguir "arrumar a casa" e equilibrar as contas:

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- Dá para fazer coisas sem dinheiro, usando a criatividade. Parcerias com os municípios e com as empresas pode ser uma boa alternativa de criação de novos empregos, especialmente para jovens. Os problemas que emperram a economia são conhecidos: déficit público, juros altos, abandono dos programas sociais, etc. O que falta é coragem de combate-los. Daí a importância das próximas eleições.

ALTERNATIVAS NA REGIÃO 

  • Resolver questões estruturais, que passam pela adequação dos gastos de todas as esferas de governo até as suas receitas
  • Fomentar projetos de empreendedorismo
  • Fortalecer o setor a agricultura familiar
  • Incentivar projetos regionais nas áreas agrícolas e tecnológicas
  • Recuperar as estradas

QUEM É RESPONSÁVEL PELO QUÊ*

  • Governador - Cabe resolver o problema da insegurança da remuneração parcelada dos servidores tem grande impacto no comportamento do consumo e, por consequência, nos serviços e comércio, prejudicando o emprego. São muitos servidores contendo despesas no Estado.
  • Deputados e senadores - Rever projetos, bem como a PEC do teto que vai sucatear toda a já baixa capacidade do Estado de prover serviços essenciais
  • Presidente - Cabe investir em políticas de desenvolvimento, estímulo ao crescimento, políticas sociais, transferência de renda que estimule o consumo e aqueça a economia. Política industrial, retomada de estímulo ao conteúdo nacional para estender e adensar cadeias de fornecedores de uns e serviços, tudo isso está ao alcance do Executivo Federal     *Por Tomás Pinheiro Fiori, Economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE)

A perda do emprego da dona de casa Verônica Câmara, 48 anos, impactou, principalmente, na hora de pôr comida na mesa. Os armários já não são mais cheios como eram seis meses atrás e, na geladeira, a carne tem sido um alimento raro e de luxo.

- O negócio é improvisar com o que tem. A gente se vira com ovos, arroz e feijão. No mercado, as coisas estão muito caras e, desde que fiquei desempregada, ficou difícil comprar carne ou alguma outra coisa diferente para fazer uma sobremesa no fim de semana - conta ela.

Moradora de São Sepé, Verônica trabalhava como atendente em uma lancheria e sorveteria. Ficava no estabelecimento das 11h às 14h e ganhava cerca de R$ 400 por mês, mas sem carteira assinada. Em fevereiro, o empreendimento fechou e, desde então, ela peregrina o comércio da cidade, mas não consegue se recolocar no mercado. Os filhos são quem ajudam a pagar a maioria das despesas, principalmente, o aluguel que compromete R$ 280 todos os meses. Um deles, de 15 anos, ainda mora com ela.

A única renda que Verônica consegue é como acompanhante de idosos hospitalizados, o que é esporádico. Há cerca de um ano, uma rede de supermercados abriu uma filial em São Sepé, mas Verônica não foi selecionada para uma das vagas. A desesperança com a cidade é proporcional a que sente em relação ao resto do país:

- Trouxeram gente de fora para empregar, em vez de dar oportunidade para nós. Já não tem indústrias e eu não consigo achar serviço. E, este ano tem eleições. Sei que não é o certo, mas vou votar em branco, pois esses políticos não fazem nada.

Da falta de empregos à informalidade 
No país em que milhões de pessoas sobrevivem na informalidade, a repetição da prática leva a outras consequências: 

- A perda do emprego obriga o indivíduo a viver de pequenos serviços, os "bicos", para completar o orçamento. Quanto mais a crise se aprofunda, maior a demora para conseguir um novo emprego, o que significa aumento da informalidade - explica o economista José Maria Pereira.

Verônica, por exemplo, que diz ter perdido o emprego, na verdade, perdeu uma renda fixa mensal, pois não estava regularizada e não tinha direitos trabalhistas assegurados.

Segundo sugerem os economistas Mateus Frozza e Thales Zamberlan Pereira, o cenário do mercado informal deve ser encarado como uma responsabilidade a ser cumprida tanto por empresas quanto pelo Estado.

- Geração de empregos é fundamentalmente dependente do setor privado. Como 50% das pessoas empregadas no Brasil trabalham em empresas com até cinco empregados, a função dos governantes é facilitar a contratação de trabalhadores e de quem sofre proporcionalmente mais com altos custos de contratação e demissão - afirmam eles.

Eles também mencionam que a alta informalidade é uma característica histórica no mercado de trabalho brasileiro, atualmente englobando quase metade dos trabalhadores. Desta forma, é responsabilidade dos governantes a criação de regras transparentes e isonômicas para incorporar essas pessoas ao mercado de trabalho formal.

Jogo de interesses 
O professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Fernando Ferrari Filho credita à queda da taxa de desemprego nos últimos meses ao mercado informal 

- Hoje, as estimativas são de que a informalidade absorve cerca de 20% da mão de obra. Os incentivos ao emprego e a expansão dos investimentos privados estão relacionados à criação de um ambiente institucional favorável à retomada do crescimento, o que estamos longe. No Rio Grande do Sul, há um agravante: os setores empresariais e de trabalhadores pensam em seus interesses imediatos, bem como a sociedade gaúcha parece viver, nas dimensões políticas, sociais e culturais, em um ambiente permanente de Gre-Nal.


PEQUENOS MUNICÍPIOS NÃO SE SUSTENTAM
O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que tem a maior proporção de cidades que são dependentes de transferências dos governos estadual e federal. Dos 497 municípios, 282 não geram receita suficiente para custear suas despesas. O problema é concentrado nos pequenos. Um levantamento feito pelos economistas Mateus Frozza e Thales Zamberlan Pereira, da Universidade Franciscana (UFN), constatou que, dos 39 municípios da área de cobertura do Diário, 24 têm menos de 10 mil habitantes. Desses, 17 não conseguem pagar os seus gastos, e a receita média não chega a 50% do que seria necessário. 

O gráfico ao lado mostra o percentual que cada cidade arrecada relativo ao total da sua despesa. A diferença é a transferência que depende de outros recursos da União. 

Em Unistalda, por exemplo, 85.66% das receitas são de transferências, ou seja, o município não tem capacidade para gerar arrecadação e se sustentar. 

Com cobertor curto no orçamento, a dificuldade na geração de empregos é sintomática, embora poucos municípios tenham uma estimativa do número exato de seus desempregados. Em geral, são as prefeituras que absorverem muitos trabalhadores. Assim, o serviço público seguido da agricultura, pequenas indústrias e comércio são as principais fontes de emprego. Os problemas deste cenário se repetem: 

- Cerca de 70 pessoas passaram pela prefeitura em busca de trabalho, e a prefeitura é a maior empregadora, com 230 servidores. Precisamos incentivar a vinda de empresas. Mas, fundamental é a melhoria de estradas de acesso, asfaltamento e sinalização - menciona Clovis Alberto Montagner, prefeito de Faxinal do Soturno, com 6.868 habitantes. Montagner acrescenta que a precariedade da infraestrutura da região é também a principal reclamação de todos os municípios da Quarta Colônia. 

- Tem desemprego, mas não conseguimos precisar o número. Não temos indústrias. O que mais emprega são as cooperativas agrícolas, a agricultura, o hospital e a prefeitura. Grande parte dos incentivos é destinado à Região Metropolitana e não para cá, interior. Falta atratividade, infraestrutura... - completa Beto Turchiello, prefeito de Jaguari. 

Ausência de programas
Com exceção de Santa Maria, a maioria das cidades da região tem fortes laços com a agropecuária, conforme pontua o economista José Maria Pereira: 

- A falta de recuperação das estradas prejudica o escoamento da produção e aumenta os custos. A crise do setor público estadual tem levado a cortes e atrasos no repasse de recursos. Acredito que o Estado não tenha nenhum programa de criação de empregos, além de cursos profissionalizantes, que não resolvem o problema principal, que é a falta de criação de empregos novos. Isso só tem levado a mais trabalhadores qualificados desempregados. Além disso, os que são criados têm sido de pior qualidade, com salários mais baixos. 

Nos últimos dias, o Diário procurou a assessoria de comunicação do Governo do Estado, por telefone e por e-mail, solicitando um levantamento de quais municípios têm vínculo com os programas Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul (Fundopem-RS) e Integrar-RS. Até o fechamento desta edição, não houve retorno.  


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